sábado, 13 de outubro de 2012

POLÍTICA E RELIGIÃO: UMA MISTURA OBSCENA



Talvez seja até espantoso, eu, que sou evangélico, presbiteriano, expor um tema tão caro neste artigo, com um título consideravelmente forte. Contudo, ainda que buscasse contemporizar, talhar, moldar ou exprimir de modo mais flexível, utilizando-me de toda a riqueza que a língua portuguesa me oferece, o resultado é esse mesmo: Política e Religião, em um caldeirão, torna-se em uma mistura bastante obscena. 

Na jornada política, da qual fiz-me parte como militante ativo, pedindo votos para uma oportunidade de governar Abaetetuba, constatei presencialmente as mais severas e extremas condições de vida, em diversos pontos da cidade, dos ramais e das ilhas. Flagelos sociais, fome, doenças, crianças no mais vergonhoso desamparo, à mercê da violência, prostituição, drogas e outras coisas mais, idosos sem assistência e um sem número de casas cujos habitantes sequer possuem uma latrina digna para suas necessidades... É forte, sim, eu sei! Mas a realidade nua e crua é que na maioria destas casas, na ampla maioria, era possível constatar a presença de uma espécie de fé, ou algo parecido, em alguma era messiânica para os próximos 04 anos de mandato. 

Não desejei, até aquele instante, crer que verdadeiramente, a religião exerce fator entorpecente, quando utilizada indevidamente e por mãos mal intencionadas. Mas, na contabilidade das relações sociais, esta foi minha triste e cruel resolução: O homem brasileiro se deixa embeber na religiosidade, acreditando no próprio homem que, usurpando o papel de Deus, interfere invasivamente em suas liberdades individuais. O pior de tudo é a promessa de céu ou de inferno para aqueles que creem ou descreem respectivamente nessas liturgias comercialescas, dignas da idade média. 

Em uma das abordagens que tive, ao lado de uma de nossas mais aguerridas militantes, fui surpreendido com um verdadeiro assalto elegante, quando, ainda candidato à vice-prefeito, fui quase coagido por determinado "líder" religioso a depositar alguns presentinhos (essa era a expressão) para a sua confraria religiosa, sob a promessa dos votos unânimes da mesma... Ora, isto é uma escalavrada venda de votos. Pior, venda da consciência alheia! E mais pior e fedorento: escondida sob a gravata! Com cristão, não aceitei nem aceitaria partilhar de um verdadeiro crime como este. Mas, como não sou a palmatória do mundo, deixo para o Soberano Juiz o veredito final.

Isto tudo nada mais é que a politização da religião, ou melhor, a partidarização da mesma, quando tais líderes se aproveitam do período eleitoral para se locupletarem, a despeito das verdadeiras e reais necessidades comunitárias. 

Defendo, sim, que a Igreja, como um todo, precisa envolver-se nas questões sociais, exercendo um dever há muito relegado à segundo, terceiro, quarto plano... Contudo, combato intensivamente a prática do cabresto eleitoral com base no que chamamos de "voto de cajado" e ainda, da vinculação da fé em opção política. Jesus disse: "Dai a Deus o que é de Deus e a César o que é de César". Deus é a Religião, César é o Estado... São coisas díspares, mas que podem andar equilibradas. Creio que Lutero, Calvino, Huss e tantos outros precursores da Reforma Protestante, se vivos fossem hoje, não hesitariam em fazer outra Reforma, mesmo no seio da Igreja Evangélica! 

No mais, o povo precisa compreender que desde que o Estado é laico, não pode haver influência ou interferência da religião na administração pública ou vice-versa... É uma triste ilusão, pastor, padre ou rabino, que apoia determinado candidato: ao sair o resultado das urnas, poderão (ou não) amargar uma derrota, ou suspirar com uma vitória incerta.

Não quero ser a palmatória do mundo, mas repito o que disse há algum tempo atrás: o mal do brasileiro é que ele tem votado de barriga cheia e de cabeça vazia.

Até breve!