domingo, 3 de julho de 2011

PROTESTO CONTRA A TECNOLOGIA

Quando alguém ler este texto, certamente já consumiu alguns milhares de kilowats de energia, alguns bytes de seu modem, (isto se ele conectar de primeira), causou dispêndio de dinheiro e gasto de qualquer coisa não renovável, para o pânico dos ativistas do meio ambiente. Quando alguém ler este pequeno escrito, de alguma forma já, antes, sondou o que o amigo ou o colega, ou ainda aquele(a) sujeito(a) investigado, anda pensando, através de seus informes no Twitter ou no Facebook, ou a grande última novidade da moda, da tecnologia, do mundo estranho e das artes, nos sites de noticias. Já deve ter pesquisado seu próprio nome em todos os sites de buscas, os nomes dos conhecidos e ainda teve a ousadia de pesquisar nas imagens, justamente para ver se a fotografia do “ser” amado (ou odiado) anda a passear pelo mundo virtual.
Quando alguém ler este texto, certamente não pensou que há vinte e poucos anos atrás, no tempo em que teclado só servia para tocar acordes na igreja e que números em teclas só existiam nas calculadoras, alguém, com aquelas vetustas cartilhas do ABC e aquele lápis de madeira não reflorestada, em uma sala de aula empoeirada de giz branco e colorido, estava a disciplinar, doutrinar, instruir e ensinar estes que hoje, abandonariam fácil as canetas, os cadernos, pelos notebooks, IPads, IPods, e todos os sugestivos aparelhos do novo mundo!
Em um tempo não muito distante, quando convivíamos com nomes americanizados apenas oriundos dos filmes de faroeste, de guerra ou ainda das aventuras infantis, milhares de meninos, hoje a nova geração de pais e mães que vivem as mesmas preocupações que davam para seus respectivos pais, olham para aquele passado e recordam que vivíamos, de fato, uma liberdade plena e perene. E porque hoje não podemos nos vangloriar das enormes vantagens que a tecnologia nos trouxe? Porque simplesmente deixamos de viver nossas vidas, para que máquinas e aparelhos eletrônicos vivam por nós. Conhecemos e nos tornamos conhecedores de centenas de milhares de pessoas, no mundo cibernético. Ali somos extrovertidos, humorados, sedutores, desavergonhados (nos dois sentidos do termo). Mas uma simples conversa com um vizinho ou um amigo, é praticamente uma raridade. De repente, nestes dias, as pessoas deixaram de cultivar o calor de um abraço ou de um aperto de mão, para botões e teclas que insistem em tentar medir o grau de amizade e importância que aquela amizade tem para este ou aquele sujeito. E no entanto, glorificam a tecnologia como modificadora, revolucionária, agente de um grande fator de crescimento.
Sim, não tenho dúvidas! A tecnologia modificadora transformou seres humanos, em quase-máquinas, provocou uma revolução negativa, desumanizando as relações sociais e interpessoais, fez crescer o individualismo, o egoísmo, a superficialidade das relações e pior que tudo, está formando uma pátria de tecnomaníacos, que dentro de um universo de milhares de pessoas, se sentirá isolado não por deixar de conhecê-las, mas por não estar conectado à grande rede. O mundo sim, perdeu suas fronteiras, mas também perdeu os limites: do bem e do mal, do justo ou do injusto, do aceitável ou inaceitável, moral ou imoral. Perdeu as noções, os parâmetros, os guias sociais e as tradições, transformando o homem em apenas números, desassistidos de sentimentos, ignóbeis, mortos!
Transformou homens em meros agentes operacionais, que precisam se render aos complexos algoritmos da tecnologia, para poder ganhar o pão, que até pouco tempo atrás se podia fazer dentro de casa. Transformou homens em seres inertes, que perdem a paciência fácil, adquirindo moléstias modernas: eis o stress! Violou nossa liberdade de comunicação ao monopolizar os sinais eletrônicos, colocando-nos à mercê de seus caprichos. Impôs até mesmo nossa indumentária! Modificou nossa etiqueta social, e transformou em démodé tudo o que era humano! Somos, enfim, o arquétipo do sonho (ou pesadelo) de Isaac Asimov.

Manifesto aos Computadores

Devolva, máquina maldita, a magia da vida a esta geração! Para o inferno com seus bytes! Enfie bem fundo em suas Portas USB´s sua arrogância fria! Liberte os homens que hipnotizas, as mulheres que enganas e as crianças que escravizas! Reconheça a sua insignificância de máquina, que foi criada para o meu bem estar, e não para a minha tormenta! Reduza-se à sua transitoriedade e descartabilidade! Você não é insubstituível! Por certo, hei de ser apedrejado pelos seus escravos, mas talvez, este leve toque de messianismo cultural há de deter, tua manifesta e destrutiva missão!
Jamais hás de reproduzir com perfeição o gorjeio do pardal, o calor do sol, o perfume das rosas, a imensidão do mar, a pureza da brisa matinal, a emoção do primeiro beijo, a doçura do mel da abelha silvestre! Nunca serás meu deus, nem te prestarei culto! Certamente, hei de te descartar, quando não mais estiveres à altura da minha perfeição de ser humano!